
Identificação foi feita no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) São Paulo, em Campinas. Inativação do vírus acontece em espaço com maior nível de biossegurança do país. Operação de guerra é montada para combater a gripe aviária no Rio Grande do Sul
O primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial do Brasil foi identificado no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) São Paulo, em Campinas (SP), que tem o maior nível de biossegurança do país. Com o mesmo método usado para detectar casos de Covid-19 em humanos, os pesquisadores recebem as amostras e, em seguida, iniciam o processo de análise.
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Mas, como foi o processo para mapeamento do vírus desde o recebimento das amostras até a identificação do resultado positivo para Influenza Aviária?
Médica veterinária e auditora fiscal agropecuária, Juliana Nabuco Pereira Otaka explicou o passo a passo do trabalho no laboratório com exclusividade ao Fantástico. Foi a primeira vez que uma equipe de televisão esteve no local. Veja abaixo detalhes.
A amostra chegou do Rio Grande do Sul na quinta-feira (15 ,em um isopor entregue em uma janela semelhante a de um drive thru. Dali, ela foi para a sala de recepção de amostra, onde as pessoas, usando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luva, máscara e óculos, conferiram a temperatura. “Ela pode vir congelada e até 8ºC é o ideal para o procedimento de detecção de vírus”, disse Juliana.
Em seguida, a amostra seguiu para o laboratório de nível de segurança NB3+, o mais alto no país e que deve ser superado pelo que está sendo construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), também em Campinas, e que será de NB4. O espaço é usado para trabalho com doenças contagiosas e com grande risco de letalidade.
No local, o próximo processo foi a inativação do vírus. Ele precisa ser totalmente eliminado para que seja manipulado em outra sala, de nível NB2. A partir deste momento, foi utilizada a técnica de exame PCR, com um swab, uma ferramenta semelhante a um cotonete, para coletar amostras biológicas das aves contaminadas.
“A gente destrói o vírus. Ele perde totalmente a capacidade infectante, de transmitir a doença. Isso tudo é feito dentro de uma placa. Com o vírus inativado e dentro da placa, ele é transferido para o nosso ambiente NB2, que a gente faz um PCR em tempo real, no qual a gente extrai o material genético desta placa”, explicou a auditora fiscal.
Os materiais foram retirados da traqueia e da cloaca das aves. Órgãos do sistema digestivo, respiratório e nervoso também foram usados para análise e, no laboratório, foram triturados para se juntarem aos reagentes.
O LFDA existe desde 1979. Tem nove laboratórios para atender aos programas de monitoramento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Nele, foi descoberta a gripe aviária em 2023, em aves silvestres. Os procedimentos seguem o protocolo internacional da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
Manipulação de material no laboratório
Reprodução/ Fantástico
Risco baixo em humanos
Juliana ainda explicou à reportagem o por quê o risco de transmissão da gripe aviária em humanos é considerado baixo.
“É baixo [risco humano]. Porque é um vírus ainda adaptado a aves. Já existem relatos desse vírus ter se adaptado a mamíferos aquáticos, vacas leiteiras nos Estados Unidos e alguns relatos em humanos também, mas não existe uma transmissão de humano a humano. Uma vez um humano infectado esse vírus encerra o ciclo dele naquele humano infectado. A possibilidade dele se manifestar em humano é baixa”, completou.
Veto a celular, óculos e alimentos
A equipe do Fantástico teve acesso até a entrada da sala do laboratório que tem o maior risco biológico. Dentro dele, estão as amostras originais que vieram da granja no RS, que têm o vírus da Influenza Aviária. Por segurança, a equipe não pôde entrar nessa sala.
Entre outros protocolos de segurança, há controle de acesso por senha. Desinfecções são realizadas com formol, substância que é inflamável e de odor sufocante, que seria capaz de danificar os equipamentos da equipe de reportagem, segundo a auditora.
Laboratório tem alto nível de segurança
Reprodução/ Fantástico
Busca pela origem da transmissão
Agora, as pesquisas no local são realizadas para desvendar como ocorreu a transmissão no Rio Grande do Sul.
A resposta pode estar nas 90 aves aquáticas que morreram de gripe aviária no zoológico de Sapucaia do Sul, a 53 quilômetros de Montenegro. Outro laboratório está investigando se foi exatamente o mesmo vírus.
E o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Campinas também está averiguando uma suspeita de gripe aviária em galinhas de uma granja comercial em Aguiarnópolis, no norte de Tocantins. O resultado da análise deve sair nesta segunda-feira (19).
Montenegro e Sapucaia do Sul, locais com focos de gripe aviária no RS
Arte/g1
‘População não tem risco nenhum’, diz ministro
O ministro da agricultura, Carlos Fávaro, espera que a situação se normalize em menos de um mês. “A gente acredita que com 28 dias será dizimado o foco em Montenegro e não deixar isso passar para nenhuma outra região brasileira. A gente consegue, então, bloquear e já voltar a declarar, depois disso, o Brasil livre de gripe aviária”, afirma o ministro.
“Todos os trabalhadores, tratadores que trabalharam com esses animais já estão em isolamento, monitorados para que não ocorra nenhum risco à saúde desses trabalhadores. Fora isso, a população em geral não tem risco nenhum, fiquem tranquilos, podem continuar trabalhando, levando a sua vida normal e consumindo carne de frango e ovos”, garantiu.
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