Grigory Melkonyants, co-presidente do movimento Golos, única organização independente de monitoramento eleitoral da Rússia, foi condenado nesta quarta-feira (14) a cinco anos de prisão. O tribunal considerou que ele teria atuado em parceria com uma entidade classificada pelo governo como “organização indesejável”, de acordo com a agência Reuters.
Aos 44 anos, o ativista foi preso em agosto de 2023. A acusação se baseou em supostos vínculos com a European Network of Election Monitoring Organisations (Enemo), rede com sede em Montenegro que reúne entidades de ex-países comunistas da Europa e da Ásia Central.
Desde 2021, a Rússia proíbe qualquer atividade ligada à Enemo. A Golos, no entanto, nega qualquer relação com o grupo desde o banimento. “Este caso absurdo desafia qualquer explicação fácil, não apenas para estrangeiros, mas até mesmo para nós mesmos”, disse Stanislav Andreichuk, também co-presidente da Golos.

Criada para fiscalizar eleições, a Golos irritou o Kremlin ao denunciar fraudes nas eleições parlamentares de 2011 e na presidencial de 2012, que devolveu Vladimir Putin à presidência para um terceiro mandato. Apesar de ter sido rotulada como “agente estrangeiro” pelo governo, a entidade segue ativa. “Mesmo que as coisas estejam ficando mais difíceis, ainda estamos fazendo o que fazemos”, afirmou Andreichuk.
A sentença contra Melkonyants ocorre em meio a uma repressão crescente ao ativismo civil e aos direitos humanos no país, intensificada após a invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A organização OVD-Info estima que mais de 1,6 mil pessoas estejam atualmente presas na Rússia por motivos políticos. O Kremlin, por sua vez, afirma que não comenta casos individuais e que precisa proteger o país contra atividades subversivas.
Durante o julgamento, o ativista se dirigiu aos apoiadores presentes no tribunal e tentou encorajá-los diante da condenação. A publicação independente Mediazona informou que ele os conclamou a não perderem a esperança com a decisão da Justiça.
A Golos foi uma das poucas entidades a divulgar dados críticos sobre as eleições presidenciais de 2024, nas quais Putin foi reeleito para um quinto mandato com mais de 88% dos votos. A organização classificou a eleição como “a mais fraudulenta e corrupta da história do país”. O governo russo rebateu, dizendo que o resultado mostrava como a população havia se “consolidado” em torno de Putin e que críticas ocidentais eram “absurdas”.
Para Andreichuk, o julgamento de Melkonyants tem implicações globais. “Uma democracia real na Rússia não seria uma ameaça militar. Mas um governo autoritário continuará ameaçando seus vizinhos”, declarou.
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