A possibilidade de uma invasão chinesa a Taiwan, que antes soava remota para os mercados internacionais, passou a ser considerada um risco real por parte dos investidores estrangeiros desde que Donald Trump voltou à presidência dos EUA. A retórica agressiva de Beijing e as incertezas sobre o papel de Washington em um eventual conflito militar geram incerteza no setor financeiro, acarretando em fuga bilionária de capitais e derrubando o índice de ações local, segundo a agência Reuters.
“A agressão contra Taiwan torna a decisão de investimento binária: manter a exposição e enfrentar uma volatilidade extrema ou sair rapidamente para preservar o capital?”, avalia Steve Lawrence, diretor de investimentos da empresa de investumento Balfour Capital Group.
A incerteza se acentuou após exercícios militares chineses no entorno da ilha, em abril, e pela crescente desconfiança sobre o compromisso dos EUA com a defesa de Taiwan. Desde o início do ano, cerca de US$ 11 bilhões (R$ 62 bilhões) deixaram o mercado acionário taiwanês, reflexo não apenas do temor de guerra, mas também dos efeitos das tarifas comerciais impostas por Trump. Já o índice de referência da Bolsa de Taipé acumula queda de 6% no ano, mesmo ante à tentativa tímida de retorno dos investidores em maio.

O centro das atenções continua sendo a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), maior fabricante de chips por encomenda do mundo e fornecedora de gigantes como Nvidia e Apple. Com ações negociadas em Taipé e Nova York, a TSMC impulsionou o mercado taiwanês a recordes recentes, mas também se tornou alvo da política comercial de Trump.
“A TSMC é tão estratégica que os investidores acreditam que os EUA vão defender Taiwan, e defender com força. Essa é a esperança”, disse Mukesh Dave, gestor da financeira Aravali Asset Management.
Mesmo assim, fundos com atuação local admitem não saber como se proteger de uma invasão. “Você não consegue liquidar operações, a moeda pode simplesmente desaparecer”, alertou Dave. Diante disso, a maioria dos investidores se vê diante de duas únicas opções: seguir no mercado como se nada estivesse prestes a acontecer ou evitar qualquer exposição.
A percepção de risco é refletida no índice Cross-Strait Risk, criado pelo Goldman Sachs para medir a intensidade das tensões entre China e Taiwan a partir do volume de notícias sobre o tema. O indicador disparou desde a eleição de Trump, enquanto a plataforma de apostas Polymarket viu as chances de uma invasão saltarem para 12%, ante a quase zero no início do ano.
Em meio à tensão, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, reafirmou recentemente o compromisso com a paz, mas teve sua fala classificada como “tática de duas caras” pelo Escritório para Assuntos de Taiwan da China. Beijing reforçou que a reunificação é “uma tendência inevitável”, enquanto Lai rejeitou qualquer soberania chinesa sobre a ilha e afirmou que apenas os taiwaneses podem decidir seu destino.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
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