
‘Espero que, caso me aposente, não seja esquecido pelo Estado e abandonado à própria sorte sem escolta e proteção, o que me forçará a ir embora do Brasil’, disse ao g1 representante do Ministério Público que há mais de 20 anos dedica-se à investigação da facção criminosa PCC. Promotor de Justiça do Gaeco, Lincoln Gakiya, de Presidente Prudente (SP)
TV Fronteira/Reprodução
O Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) e o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) realizarão o 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Democracia e Direitos Humanos, no Hotel Renaissance, em São Paulo (SP), entre as próximas segunda (26) e quinta-feiras (29). O evento é gratuito e contará com a participação do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, de Presidente Prudente (SP). Ele integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP).
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“Eu tive a honra de ser convidado para ser um dos coordenadores gerais desse evento. Na minha opinião, é o maior já realizado no Brasil na área de segurança pública. Com o tema ‘Um modelo brasileiro de combate às máfias e à insegurança nas cidades e no campo’, o evento reunirá autoridades, especialistas e acadêmicos do Brasil e do exterior para quatro dias de debates”, detalha o promotor ao g1.
A programação prevê cerca de 30 painéis, com aproximadamente 100 participantes no total, entre eles o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; os ministros da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, e da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias; o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB); e os ministros Gilmar Mendes e Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu estarei presente em painéis em todos os dias do evento. Abordaremos temas como a atuação do crime organizado no Brasil, as competências das instituições no combate às organizações criminosas e propostas legislativas, a exemplo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e do Projeto de Lei Antimáfia”, comenta Gakiya.
O seminário também abordará experiências internacionais, com painéis dedicados aos modelos antimáfia da Itália, dos Estados Unidos, do México e da Argentina, e tratará da importância da cooperação internacional no enfrentamento ao crime.
É possível se inscrever no 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Democracia e Direitos Humanos pelo site, bem como conferir a programação completa.
Quem é Lincoln Gakiya?
Lincoln Gakiya é prudentino e integrante do Gaeco, do MPE-SP. Como promotor de Justiça, ele investiga o Primeiro Comando da Capital (PCC) desde 2004 e vive há mais de dez anos sob escolta policial, devido a ameaças recebidas.
Gakiya se formou em direito no Centro Universitário Toledo Prudente, em junho de 1990, e ingressou no Ministério Público paulista em 1991, em seu primeiro concurso.
“Fiz pós-graduação em direito penal e atualmente estou cursando mestrado em Ciências Militares e Segurança Pública, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), no Rio de Janeiro [RJ]”, conta.
“Iniciei minha carreira como promotor de Justiça substituto em São Paulo e fiquei alguns meses na capital. Depois, fui promovido, em 1992, ao cargo de promotor de Justiça de Presidente Bernardes[SP], onde trabalhei até 1996, quando fui promovido para o cargo de terceiro promotor de Justiça de Presidente Venceslau [SP]. Em 2008, fui promovido para o cargo de oitavo promotor de Justiça de Presidente Prudente, onde estou até hoje. Em 2008, passei a exercer também a função de promotor de Justiça do Gaeco, cargo que exerço até hoje, cumulativamente com meu cargo de promotor de Justiça de Execuções Criminais de Presidente Prudente”, lembra Gakiya.
Promotor de Justiça Lincoln Gakiya vive há mais de dez anos sob escolta policial
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Na adolescência, aos 14 anos, Gakiya trabalhou em uma oficina mecânica, em Presidente Prudente, aos 17 atuou em um banco e, em 1988, ingressou em outra instituição bancária, onde trabalhou até ser nomeado promotor de Justiça, em 1991.
“Comecei a trabalhar especificamente em investigações do crime organizado (PCC) em 2004, quando era promotor de Justiça em Presidente Venceslau, e não parei de trabalhar com esse assunto até hoje”, detalha.
“Nem em meus melhores sonhos eu achei que conseguiria chegar onde cheguei hoje, dentro da minha área de atuação, felizmente com reconhecimento nacional e internacional. Nada disso foi planejado. Um pouco foi por necessidade própria, inclusive, para me manter em segurança, porque eu causei muitos problemas e prejuízos para a facção criminosa, o que me causou um decreto de morte, e ninguém melhor do que eu para coordenar investigações que, além de auxiliar na segurança pública da região e do Estado, também colaboram para manter minha segurança e de minha família”, expõe Gakiya.
Aos 58 anos, o promotor de Justiça destaca marcos importantes de sua trajetória, entre eles, a denúncia apresentada contra 175 integrantes do PCC, incluindo o principal chefe da facção, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
“Durante minha trajetória, tiveram vários fatos que marcaram minha carreira. Em 2013, fui responsável pela denúncia contra 175 integrantes do PCC, inclusive o Marcola, considerada a maior investigação da história do MPE-SP. Depois, fui o responsável por várias outras investigações que tiveram destaque nacional, como a Operação Ethos, a Operação Echelon, a Operação Sharks, a Operação Fim de Linha, a Operação Salus et Dignitas (Cracolândia) e outras”, descreve o promotor.
Trajetória em livro
“Estou escrevendo um livro sobre essa trajetória e contando os bastidores das investigações e das operações. Será lançado no ano que vem”, acrescenta.
Em 2026, Lincoln Gakiya completará 35 anos de atuação no Ministério Público. Após décadas dedicadas ao combate ao crime organizado, ele espera que o Estado não o abandone — nem a sua família — no que diz respeito à proteção.
“Eu caminho para a última etapa da minha trajetória como promotor de Justiça: ano que vem, eu completarei 35 anos de carreira no MPE-SP. Espero que, caso me aposente, não seja esquecido pelo Estado e abandonado à própria sorte sem escolta e proteção, o que me forçará a ir embora do Brasil”, expressa Gakiya ao g1.
Ele sonha com a aprovação de uma lei que garanta a segurança dos agentes que se empenharam no enfrentamento ao crime organizado.
“A esperança é que seja aprovada alguma lei que proteja não só a mim, mas os policiais e demais profissionais que dedicaram a vida ao combate ao crime organizado e, por conta dessa atuação, estão marcados para morrer”, conclui o promotor de Justiça.
Lincoln Gakiya espera ‘não ser esquecido pelo Estado’
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