Resposta militar evidencia Índia mais agressiva e com nova estratégia frente ao Paquistão

A recente resposta militar da Índia a um atentado em Pahalgam, na Caxemira administrada por Nova Délhi, revela uma mudança significativa na estratégia do país em relação ao Paquistão. Em artigo publicado na revista Foreign Policy, a analista Anchal Vohra aponta que o governo de Narendra Modi abandonou a histórica doutrina de contenção adotada por administrações anteriores e passou a adotar uma política de “dissuasão punitiva”, com ataques diretos em solo paquistanês.

Segundo Vohra, durante a ofensiva iniciada no dia 7 de maio incluiu o lançamento de mísseis contra nove alvos, entre eles instalações associadas aos grupos Jaish-e-Mohammad (JeM) e Lashkar-e-Taiba (LeT), acusados de promover ataques terroristas em território indiano. Um dos bombardeios mais simbólicos atingiu Muridke, reduto do LeT próximo a Lahore, tradicionalmente evitado por sua localização em área civil.

A colunista ressalta que essa postura rompe com a linha adotada, por exemplo, por Manmohan Singh, que optava por respostas diplomáticas ou de menor intensidade para evitar a escalada do conflito. A guinada promovida por Modi, segundo ela, parece ter sido motivada pelo clamor público por retaliação e pelo desejo de impor custos concretos ao Paquistão por seu suposto apoio a grupos extremistas.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi: postura mais agressiva (Foto: Divulgação/Flickr/Mike Bloomberg)

Apesar do impacto militar, Vohra questiona se a nova abordagem surtirá efeito duradouro. Ela lembra que ataques similares ocorreram em 2016 e 2019, também com promessas de dissuasão, mas não evitaram novas ações terroristas nos anos seguintes. “Se, nos próximos dez anos, não houver novos atentados, pode-se dizer que a resposta funcionou. Mas, se a situação melhorar apenas um pouco, talvez os riscos dessa estratégia não se justifiquem”, afirmou um ex-diplomata indiano ouvido pela autora.

A reportagem também traz o depoimento do jornalista paquistanês Zahid Gishkori, que confirmou a precisão dos ataques indianos em Bahawalpur, cidade natal de Masood Azhar, líder do JeM. Moradores relataram mortes entre parentes e aliados do militante, embora o governo paquistanês não tenha divulgado dados oficiais. A Índia, por sua vez, evitou comentar as perdas sofridas após os contra-ataques de Islamabad, que incluiu uso de drones e mísseis, além da alegação de que cinco caças indianos foram abatidos, incluindo um Rafale de origem francesa.

A tensão crescente entre os dois países reacendeu o temor de uma guerra em larga escala entre potências nucleares. Vohra aponta que tanto o Exército indiano quanto o paquistanês têm capacidades militares equivalentes, o que torna o cenário mais instável. A retórica nacionalista e a pressão por respostas enérgicas aumentam o risco de decisões impensadas.

O cessar-fogo anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, após uma madrugada de negociações, interrompeu temporariamente o confronto. No entanto, a oposição indiana criticou o governo Modi por aceitar, ainda que tacitamente, uma mediação internacional — algo que a diplomacia indiana historicamente rejeita, sobretudo na disputa pela Caxemira.

Apesar de aceitar a diplomacia, Modi mostrou que as regras do jogo mudaram, segundo a autora. “A Índia deu uma resposta diferente”, diz ela, em opinião compartilhada pelo ex-embaixador indiano nas Nações Unidas Syed Akbaruddin. “A Índia basicamente mostrou ao Paquistão que não há ninguém para detê-la”, afirmou.

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