
Diminuição no número de viagens se soma às reclamações de quem ainda depende dos transporte coletivo. Presidente da Emdec acredita que nova licitação pode tornar serviço mais atrativo. Cai número de viagens realizadas por passageiros do transporte público de Campinas
A quantidade de viagens no transporte público coletivo de Campinas caiu em 2024. Segundo a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), foram registradas 120,2 milhões de passagens por catracas de ônibus, 3,94 milhões a menos que em 2023, quando houve 124,2 milhões.
⚠️ O levantamento considera o número total de vezes em que passageiros passaram pela catraca dos ônibus, e não o total de pessoas transportadas, já que um mesmo usuário pode realizar mais de uma viagem por dia.
A tendência de queda continua em 2025. Nos quatro primeiros meses do ano, foram registradas 38,03 milhões de viagens, 1,8 milhão a menos que no mesmo período de 2024, que teve 39,89 milhões. A média mensal passou de 9,97 milhões para 9,5 milhões.
Das motos ao transporte por app
A Emdec aponta três principais fatores para a diminuição na demanda:
a migração de passageiros para transportes por aplicativo;
o crescimento do trabalho remoto; e
o aumento da frota de motocicletas, impulsionado pelo cenário econômico.
O caso do militar Adriel Mota, morador do Jardim Florence, ilustra essa mudança. Ele deixou de usar ônibus todos os dias após comprar um carro no ano passado. “Acaba gastando um pouco a mais, mas vale muito a pena”.
“Foi uma comparação da questão de valor e também do tempo, conforto e acabei colocando na ponta do lápis. A passagem já não é muito barata, aí acabou compensando ir para o carro mesmo”, contou.
A terapeuta Sophia Momesso Martins trocou o ônibus pelo transporte por aplicativo. “Eu pago mais ou menos uns R$ 5, R$ 6 e aí eu chego muito mais rápido. De ônibus eu demoraria meia hora para chegar no meu serviço, e de Uber Moto eu chego em sete minutos, mais ou menos”.
Passageiros aguardam ônibus no Terminal Central de Campinas
Reprodução/EPTV
Reclamações
A queda no número de viagens se soma às reclamações de quem ainda depende dos ônibus. Em cerca de meia hora no Terminal Central, não foi difícil encontrar passageiros insatisfeitos nesta quinta-feira (15).
“Hoje mesmo tinha dois [ônibus] quebrados na Amoreiras. Está péssimo, não tem condições. Está sempre lotado, passagem cara e a gente que leva sempre a pior”, lamentou a auxiliar de desenvolvimento Maria José Diniz.
As reclamações acontecem mesmo depois da implantação do BRT (bus rapid transit, na sigla em inglês) com 100% de funcionamento nos terminais.
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“O BRT quebra sempre, porque sempre eu pego o BRT e ele sempre está quebrando. [A implantação do BRT não foi boa] Nem para mim, acho que para muita gente, porque eles tiraram os do bairro. Antes eu acho que era melhor o transporte”, disse a dona de casa Maria Natividade Valentim.
Hildelene Soares, auxiliar de limpeza, reclama dos problemas enfrentados na linha do bairro Satélite Íris 1, que já fizeram ela se atrasar para chegar no trabalho.
“A gente vai para o ponto dez para as 5h, 4h50, não tem ônibus para vir trabalhar. Tem dia que tem, dia que não tem. Todo dia, quando é para a gente ir embora, também não tem ônibus. Diz que não tem motorista, o ônibus quebra, a gente fica aqui até as 17h”, afirmou.
Diante desses problemas, o presidente da Emdec, Vinícius Riverete, acredita que a nova licitação no transporte público pode trazer mais eficiência e tornar o serviço mais atrativo.
“Com certeza a nova licitação vai trazer ônibus novos, com mais qualidade e, principalmente, o que eu defendo bastante é a previsibilidade dos horários, é você realmente ter um horário ali e ele ser cumprido. Então essas pessoas vão ter mais confiança no sistema e vão voltar a usar o transporte público”, disse.
Sobre os atrasos citados na reportagem, a Emdec explicou que um ônibus da linha 163 se envolveu em um acidente nesta manhã na Avenida Amoreiras, sem feridos, e por isso houve atraso. Outro veículo, da linha BRT-10, também quebrou no mesmo trecho.
Ainda segundo a Emdec, um terceiro ônibus da linha 231 apresentou falha mecânica dentro do Terminal Central e atrasou no início da manhã.
Cenário pós-Covid
O recuo no uso do transporte coletivo ocorre após uma sequência de recuperação no período pós-pandemia. Em 2020, ano mais crítico da Covid-19, foram contabilizadas 85,7 milhões de viagens.
Em 2021, o número subiu para 95,8 milhões. Já em 2022, voltou a ultrapassar a marca de 120 milhões, patamar que vinha sendo mantido até o ano passado.
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