Putin minimiza necessidade de usar armas nucleares na Ucrânia e cita fim ‘lógico’ para a guerra

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que o momento de recorrer ao arsenal nuclear do país na guerra contra a Ucrânia talvez não chegue. A afirmação foi feita durante um documentário transmitido no domingo (5) pela televisão estatal russa, que aborda os 25 anos dele à frente do país. As informações são da agência Associated Press (AP).

“Não houve necessidade de usar essas [armas nucleares] e espero que não sejam necessárias”, disse o presidente russo ao comentar a resposta aos recentes ataques ucranianos em território russo. Ainda segundo ele, Moscou tem “força e meios suficientes para levar o que começou em 2022 a uma conclusão lógica com o resultado que a Rússia exige”.

Apesar da manifestação de Putin, nos últimos meses Moscou chegou a ultrapassar a retórica inflamada e adotou medidas práticas ligadas a seu arsenal de armas de destruição em massa durante a guerra, especialmente nos meses finais de 2024.

O ponto crucial do processo foi a flexibilização da doutrina nuclear anunciada por Putin em setembro. A medida determina que um ataque contra o país por um Estado não nuclear, mas que conte com o apoio de outro com armas nucleares, passará a ser encarado como um “ataque conjunto”.

Putin em maio de 2021 (Foto: The Presidential Press and Information Office/WikiCommons)

Considerando o cenário da guerra da Ucrânia, a nova doutrina significa na prática que Moscou pode usar suas armas nucleares para responder a uma ação de Kiev com armas ocidentais. Até então, a norma previa o uso somente em resposta a um eventual ataque também nuclear, ou então para reagir a uma situação extrema que colocasse a própria existência do Estado russo em risco.

A decisão de Putin, bem como exercícios com o arsenal de destruição em massa realizados em outubro do ano passado, surgiram após a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) afrouxar as restrições ao uso de suas armas por Kiev, que obteve mais liberdade para disparar os mísseis fornecidos pelo Ocidente contra o território russo.

Em junho, a Rússia já avia realizado exercícios militares que despertaram o interesse ocidental devido ao emprego de armas nucleares táticas, algo incomum. Tais manobras geralmente envolvem armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram para atingir Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, nas manobras citadas, Moscou usou artefatos menos potentes, voltados a neutralizar posições inimigas, indício de que admite implantá-los na Ucrânia.

Kiev sob ataque

Enquanto Putin falava no final de semana, ataques com drones russos atingiram bairros residenciais de Kiev durante a madrugada de domingo (4). Segundo o Serviço de Emergência da Ucrânia, ao menos 11 pessoas ficaram feridas, incluindo duas crianças.

A ofensiva, que incluiu 165 drones e dois mísseis balísticos, deixou dois mortos nas regiões de Dnipropetrovsk e Sumy. De acordo com a Força Aérea da Ucrânia, 69 drones foram interceptados e outros 80 perderam o rumo por interferência eletrônica.

Em meio aos bombardeios, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky voltou a criticar a proposta russa de um cessar-fogo de 72 horas em homenagem ao Dia da Vitória. “Putin está muito ansioso para exibir seus tanques no desfile, mas ele deveria pensar em acabar com sua guerra”, afirmou durante entrevista coletiva ao lado do presidente tcheco Petr Pavel.

A trégua russa, segundo o Kremlin, teria motivação humanitária e estaria prevista para ocorrer entre os dias 8 e 10 de maio. Zelensky, no entanto, reforçou o pedido por uma pausa de 30 dias, como sugerido pelos EUA, e destacou que Moscou ignorou essa proposta por 54 dias.

Além disso, o líder ucraniano agradeceu o apoio da República Tcheca e afirmou que o país espera receber 1,8 milhão de projéteis de artilharia em 2025, por meio de uma iniciativa liderada por Praga com o apoio de países da Otan. Ele também anunciou planos para a criação de uma escola de treinamento de pilotos de F-16 fora da Ucrânia, em razão dos bombardeios russos.

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