A ameaça de um bloqueio naval à ilha de Taiwan deixou de ser uma hipótese remota para se tornar um cenário cada vez mais explorado pela China. Em abril, o Exército de Libertação Popular (ELP) realizou exercícios que incluíram simulações de bombardeios a portos e instalações energéticas, além de ensaios com milícias marítimas e a Guarda Costeira em estratégias de cerco. “Se Taiwan perde suas rotas marítimas, seus recursos se esgotam rapidamente, a ordem social entra em colapso e os meios de subsistência são severamente impactados”, afirmou um oficial chinês em vídeo de propaganda. As informações são da revista The Economist.
Mais do que uma demonstração de força, essas manobras fazem parte de uma campanha de intimidação em várias frentes. A China tem aumentado sua presença nas águas e no espaço aéreo próximos a Taiwan, com drones, balões e embarcações cruzando zonas restritas. A estratégia tem sido descrita por analistas como “guerra cinzenta”, um conjunto de ações coercitivas abaixo do limiar de um conflito declarado, que inclui até o corte deliberado de cabos submarinos de comunicação.

A pressão sobre Taiwan ocorre num momento em que a confiança na proteção americana está abalada. A volta de Donald Trump à presidência dos EUA preocupa autoridades e a população taiwanesa, antes às ameaças do presidente de impor tarifas a aliados como Japão e Coreia do Sul e as declarações de que Taiwan “roubou” a indústria americana de semicondutores.
Uma pesquisa recente do grupo de pesquisa Brookings apontou que uma parcela crescente dos taiwaneses acredita que os EUA não interviriam em caso de guerra com a China.
O cenário é especialmente delicado para uma ilha que importa cerca de 96% de sua energia e 70% dos alimentos consumidos. Taiwan tem buscado ampliar estoques de arroz e carne, reativar usinas a carvão, aumentar o armazenamento de gás natural liquefeito (GNL) — responsável por 42% da geração de energia — e fortalecer a capacidade de comunicação com alternativas a cabos submarinos, como satélites e sistemas por micro-ondas. Ainda assim, até 2027, o país contará com reservas mínimas de apenas 14 dias de GNL.
Autoridades de defesa também preparam estratégias para enfrentar o que poderia ser uma quarentena marítima — uma versão “suavizada” de bloqueio que restringiria parte do tráfego comercial, possivelmente liderada por forças da Guarda Costeira chinesa sob pretextos legais ou sanitários. Segundo Lee Jyun-yi, do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa em Segurança, “essa abordagem dá à China mais espaço para recuar quando necessário”.
Taiwan afirma que reagirá com firmeza caso sofra um bloqueio. “Um bloqueio é um ato de guerra. Responderemos militarmente. Se a China fizer isso, é como se já estivesse nos invadindo”, declarou um funcionário do governo. Embora admita que uma quarentena “vai nos prejudicar”, ele ressalta que a medida não seria suficiente para forçar uma rendição e teria um custo elevado para a imagem internacional da China. Essa é a aposta taiwanesa para, ao menos por enquanto, sentir-se à salvo.
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