Em meio à crise energética, empresas da Europa pregam a retomada da importação de gás russo

Mais de três anos após o início da guerra na Ucrânia, uma ideia antes impensável voltou ao debate na Europa: reabrir as portas ao gás natural russo. Executivos de grandes empresas do setor energético e industrial estão defendendo discretamente o retorno de parte das importações da Gazprom, estatal russa, em meio à frágil segurança energética do continente e à dependência crescente do gás liquefeito dos EUA. As informações são da agência Reuters.

A discussão ocorre num momento em que as negociações com o Catar estão estagnadas, e o ritmo de expansão das fontes renováveis ainda não atende à demanda.

“Se houver uma paz razoável na Ucrânia, poderíamos voltar a fluxos de 60 bilhões de metros cúbicos, talvez 70, por ano, incluindo GNL”, disse Didier Holleaux, vice-presidente executivo da Engie, empresa francesa parcialmente estatal que foi uma das maiores compradoras de gás russo antes da guerra.

Estatal russa Gazprom (Foto: Gazprom/Reprodução Twitter)

A situação é particularmente delicada na Alemanha, cuja indústria química era fortemente dependente do gás barato que vinha da Rússia, principalmente via gasoduto Nord Stream, danificado em 2022.

“Estamos em uma crise severa e não podemos esperar”, afirmou Christof Guenther, diretor da operadora InfraLeuna, que destacou os cortes de empregos no setor por cinco trimestres consecutivos. “Reabrir os gasodutos reduziria os preços mais do que qualquer programa de subsídio atual.”

Em regiões do leste alemão, como Mecklenburg-Vorpommern, o apoio popular à retomada das importações russas é crescente. Uma pesquisa do instituto Forsa revelou que 49% dos alemães na área são favoráveis à medida.

“Precisamos de gás russo, precisamos de energia barata. Não importa de onde venha”, declarou Klaus Paur, diretor da Leuna-Harze, indústria petroquímica de médio porte. “Precisamos do Nord Stream 2 porque temos que conter os custos de energia.”

Por trás do debate energético está também o fator Donald Trump. A volta do republicano à presidência dos EUA reacendeu temores de que o gás norte-americano vire moeda de troca nas negociações comerciais.

“Está ficando cada vez mais difícil considerar o GNL dos EUA como uma commodity neutra: em algum momento pode se tornar uma ferramenta geopolítica”, afirmou Tatiana Mitrova, pesquisadora da Universidade de Columbia.

Holleaux, porém, defendeu que eventuais novos contratos com a Gazprom só devem ser assinados mediante pagamento de decisões judiciais pendentes. “Você (Gazprom) quer voltar ao mercado? Muito bem, mas não assinaremos um novo contrato se você não pagar o valor da sentença”, disse. Só a Uniper, da Alemanha, ganhou na Justiça cerca de 14 bilhões de euros da empresa russa por não cumprimento contratual.

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