De auxiliar de produção a TI: indústria da região de Campinas aponta falta de mão de obra qualificada como principal gargalo


Pesquisa do Ciesp aponta que busca por profissionais está entre os principais problemas do setor, sendo que os chamados cargos de chão de fábrica, em que há menor exigência de escolaridade e oferta de treinamento, também estão em falta. Foto de arquivo de indústria na Região de Campinas
Reprodução/EPTV
A falta de mão de obra qualificada é um dos grandes gargalos da indústria na região de Campinas. Divide com o cenário econômico nacional o posto de maior dificuldade que as empresas enfrentam atualmente, segundo pesquisa da regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
Apontada como problema por 50% das indústrias que participaram da sonagem do Ciesp, a falta de mão de obra não é restrita aos cargos superqualificados, como profissionais da área de tecnologia da informação (TI), com salários que podem chegar aos R$ 40 mil e que, sim, estão em alta últimos anos. Mas a dificuldade atinge em cheio o chamado “chão de fábrica”.
Ou seja, há problemas para o preenchimento de vagas em cargos que exigem menor grau de escolaridade e onde há, inclusive, oferta de treinamento.
“Vai desde pintor, serralheiro, operador de máquina, auxiliar de linha de produção, até os profissionais da área de sistemas. Em sua grande maioria, são cargos que precisam de uma qualificação, mas para trabalhadores com ensino médio, e onde também há oferta para esse treinamento”, explica José Henrique Toledo Corrêa, diretor do Ciesp-Campinas.
Embora a indústria apresente perfil médio de remuneração maior que outros setores na região, com média salarial de R$ 2.922,00, contra R$ 2.650,00 no geral, o diretor do Ciesp vê que fatores como a informalidade ou a falta de interesse das novas gerações por algumas ocupações.
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“Nós temos uma geração de jovens entrando no mercado de trabalho que busca um tipo de trabalho é que é fora da indústria, há um grande interesse pela internet. E isso é uma dificuldade. E esse apagão da mão de obra envolve desde o recebimentos de bolsas, como o Bolsa Família, e também tem a questão da fomalização do mercado de trabalho. Principalmente depois de 2019, muitos setores preferem a informalidade, porque ganham mais. Essas são situações que corroboram essa falta de mão de obra que a gente está vivendo”, diz.
‘É muito ruim’
O empresário Edson de Rezende, proprietário de uma empresa de produtos naturais de Artur Nogueira (SP) há quatro décadas, conta que enfrenta dificuldades de contratação de pessoal em diversas áreas, em salários que partem de R$ 2,4 mil e chegam a R$ 12 mil por mês.
Sua indústria atua no beneficiamento de produtos derivados da apicultura e de meliponicultura, e ele conta que precisa de trabalhadores para atuar desde o gerenciamento de departamentos, na área administrativa e controle de produção, como também na programação de produção.
“A dificuldade maior hoje, em grande número, é de nós conseguirmos contratar pessoas para trabalhar no chão de fábrica, são auxiliares de produção. Isso é algo terrível, porque nós recrutamos 20, 30, 100, e sobra meia dúzia. É muito ruim. E um dos problemas também é o setor técnico, onde nós precisamos de engenheiro de produção, engenheiro químico, graduados em química”, diz.
“Nós podemos colocar que 100% daquilo que você precisa para o dia a dia de trabalho de uma indústria está em falta, não é só comigo. O nosso piso mínimo é R$ 2.400, chegando até R$ 10.000, R$ 12.000, dependendo do cargo que a pessoa vai exercer. Oferecemos plano de saúde, assistência odontológica e damos todos as condições para desenvolvimento de crescimento dentro da empresa”, explica.
Questionado sobre quais os motivos para o preenchimento dessas vagas, Rezende pontua a falta de interesse e de preparação como empecilhos para o setor.
“Nós temos uma dificuldade muito grande porque as pessoas não estão muito interessadas, a gente sente que não há preparo. E até para o aprendiz existem obstáculos, em que a pessoa não quer sair da comodidade, em que se dá mais valor ao celular, que preferem o trabalho em casa. Na área industrial, pouquíssimas pessoas podem fazer o trabalho home office, 90% ou mais da nossa atividade é dentro da planta da fábrica”, conta.
Indústria que atua no beneficiamento de produtos de abelha e derivados de Artur Nogueira (SP) destaca a falta de mão de obra como empecilho na região de Campinas (SP)
Edson de Rezende
Ciesp Campinas
As 590 empresas associadas ao Ciesp Campinas movimentam média de R$ 53 bilhões por ano, e empregam 97,9 mil colaboradores.
Elas estão distribuídas pelos municípios de Amparo (SP), Artur Nogueira (SP), Campinas (SP), Conchal (SP), Estiva Gerbi (SP), Holambra (SP), Hortolândia (SP), Itapira (SP), Jaguariúna (SP), Mogi Guaçu (SP), Mogi Mirim (SP), Paulínia (SP), Pedreira (SP), Santo Antonio de Posse (SP), Serra Negra (SP), Sumaré (SP) e Valinhos (SP).
Os setores de atuação delas são: Metalúrgico; Farmacêutico; Alimentos; Têxtil; Mecânico; Madeireiro; Bebidas; Gráfico; Construção; Calçados; Autopeças e Transporte; Elétrico, Eletrônico e de Comunicação; Borracha; Mobiliário; Papel e Papelão; Químico e Petroquímico; Vestuário; Produção de Materiais Plásticos; Produção de Minerais Não Metálicos; Piscicultura; Comércio Atacadista e Varejista.
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