
Avistada em 28 de maio na cidade de Criciúma, ave migratória não era encontrada no estado desde agosto de 2016. Presença pode estar associada a erro no “sistema de bússola” da ave. Ave foi registrada em Criciúma, no estado de Santa Catarina
Kacau Oliveira
No fim do mês de maio, um visitante inusitado despertou a atenção de alguns observadores de aves de Santa Catarina. Depois de oito anos sem registros no estado, uma mariquita-de-perna-branca (Setophaga striata) foi avistada no Parque das Nações, no município de Criciúma (SC).
O fotógrafo Arlindo Pizzolo observou, fotografou e relatou sobre o aparecimento da espécie. Os últimos registros da ave tinham sido feitos em agosto de 2016, em Balneário Piçarras (SC).
A mariquita-de-perna-branca realiza a mais longa migração entre espécies do gênero Setophaga, com alguns indivíduos viajando mais de 8 mil km do Alasca até o Brasil, sendo cerca de 2.500 km sobre o mar e totalizando até 88 horas de voo sem pausas.
A fotógrafa de natureza Kacau Oliveira mora em Florianópolis (SC) e viajou por três horas para encontrar a ave. Após ver as fotos e pesquisar sobre a espécie, assumiu o compromisso de vê-la pessoalmente.
“Como observadora, preciso ir registar essa maravilha que, para minha sorte, resolveu parar para descansar e se alimentar relativamente perto de casa. Além de ser um lifer, se ela veio de tão longe, o que são três horas de carro para tentar vê-la?”, explica Kacau.
Mariquita-de-perna-clara
Kacau Oliveira
Quando Kacau e os amigos chegaram no parque, esperaram ao menos 40 minutos até que a ave aparecesse forrageando entre as árvores. Eles puderam observá-la por menos de dez minutos, mas já foi o bastante para a viagem render diversas fotos.
“Meu sentimento é de gratidão imensa, primeiro à Mãe Natureza por ter traçado o curso dessa ave rara para tão perto de mim, e depois aos meus amigos que embarcaram junto comigo nessa aventura”, diz a fotógrafa.
Espécie migratória
A mariquita-de-perna-clara vive geralmente nas florestas boreais do Canadá e dos Estados Unidos, entre a primavera e o outono. É predominantemente insetívora, se alimentando de larvas e insetos adultos. Durante a migração, pode comer frutos.
Em bando, migram sentido Sul (principalmente para o norte da América do Sul) durante o inverno do Hemisfério Norte, saindo das áreas de reprodução entre setembro e outubro. Voltam para os locais reprodutivos entre abril e maio, sendo os últimos indivíduos vistos na América do Sul no início de junho.
Sua rara presença no sul do Brasil pode ser explicada pelo fato da grande maioria dos indivíduos se manterem invernando em áreas mais quentes do continente, em locais próximos à Amazônia.
“Nesta parte da América do Sul chegam poucos indivíduos para invernar, e a chance de algum observador encontrá-lo é menor”, explica Guilherme Brito, doutor em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Espécie foi encontrada no Parque das Nações, em Criciúma
Kacau Oliveira
Segundo ele, nesta época do ano, os indivíduos já deveriam estar voltando para o Canadá e a ocorrência tardia da espécie em SC pode indicar “erro no sistema de bússola”, uma confusão para se localizar vista em algumas aves migratórias.
Nesse caso, ela voou sentido Sul ao invés de retornar para o Norte. “Existem registros desse fenômeno em muitas espécies que migram longas distâncias, uma migração inversa. Sendo um registro tão ao Sul, aqui ela supostamente teria trocado. Ao invés de subir, a ave desceu”, diz o ornitólogo.
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