A prisão de um professor universitário por críticas à retórica bélica nacionalista reacendeu o debate sobre a repressão à dissidência na Índia. O governo do primeiro-ministro Narendra Modi, que há uma década persegue críticos com processos criminais e investigações, ampliou sua ofensiva após a operação militar de quatro dias contra o Paquistão. As informações são do The New York Times.
Ali Khan Mahmudabad, professor de ciência política na Universidade Ashoka, foi detido em sua residência em Nova Délhi no domingo (18). Em postagens nas redes sociais, ele criticou o “desejo cego de guerra” mesmo após o cessar-fogo anunciado no dia anterior. Embora tenha elogiado as Forças Armadas indianas, também alertou que o desejo de vingança pela morte de turistas hindus não deveria apagar a perseguição crescente à minoria muçulmana do país.

Segundo seu advogado, Mohammed Nizamuddin Pasha, a denúncia foi registrada por um morador do estado de Haryana, onde fica a universidade. Mahmudabad, cujo nome legal é Mohammad Ali Ahmad Khan, foi acusado de ameaçar a soberania nacional e pode pegar de três anos a prisão perpétua.
A repressão se estende além do meio acadêmico. O governo solicitou à rede social X, antigo Twitter, o bloqueio de mais de oito mil contas sediadas na Índia durante o conflito com o Paquistão, alegando que as publicações comprometiam “a soberania e integridade da Índia”. O Ministério da Informação justificou a decisão como uma medida contra conteúdo de origem paquistanesa.
Na mesma semana, a acadêmica britânica de origem indiana Nitasha Kaul foi impedida de entrar no país. Ela nasceu na Índia, onde ainda vive sua mãe, e pesquisa temas como feminismo, nacionalismo e Caxemira, onde se originou o conflito. A justificativa oficial foi a de que ela estaria “envolvida em atividades anti-Índia, motivada por má-fé e desrespeito completo aos fatos ou à história”. “Se escrevo sobre islamofobia e Índia, o governo não gosta. E, para suprimir isso, fazem de pessoas como eu e ele um exemplo”, disse ela por telefone.
Também houve represália contra o setor empresarial. A empresa turca Celebi Airport Services, que atua em aeroportos indianos, teve sua licença revogada por razões de segurança nacional, medida adotada após o governo da Turquia declarar apoio ao Paquistão durante os combates. Já o proprietário do jornal Gujarat Samachar, crítico de Modi há mais de 20 anos, foi preso por autoridades fiscais.
Apesar da escalada autoritária, alguns analistas haviam detectado sinais de flexibilização após a perda da maioria parlamentar de Modi no ano passado. A organização Repórteres Sem Fronteiras elevou a posição da Índia no ranking de liberdade de imprensa: o país passou da 159ª para a 151ª colocação entre 180 nações.
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