Um cidadão chinês capturado pelas forças ucranianas afirmou que foi influenciado por vídeos vistos no Douyin — a versão chinesa do TikTok — a se alistar no Exército russo. Identificado como Wang Guangjun, de 34 anos, ele falou à imprensa internacional durante uma entrevista coletiva de duas horas realizada em Kiev nesta semana, após ter sido capturado junto de um compatriota. As informações são do site Business Insider.
“Minha família pode ser considerada bastante harmoniosa, com esposa, filhos, pais”, contou Wang. “Mas, por causa dos problemas da pandemia na China, perdi meu emprego. Então, estava procurando qualquer tipo de trabalho; foi assim que acabei nesta situação.”
Segundo ele, os vídeos que assistia eram “chamativos e legais”, mostrando soldados russos e armamentos modernos. “Na China, o status e a identidade social de um soldado chinês são muito altos, especialmente no coração do público. Então, todo homem chinês tem esse sonho de sucesso.”

Wang trabalhava como terapeuta ocupacional na China e disse ter visto vídeos que promoviam vagas para atuar com atendimento a feridos na Rússia. “Diziam que, devido aos últimos dois anos de combates da Rússia, havia muitas pessoas feridas que precisavam que nós administrássemos a terapia de reabilitação.”
Ainda segundo ele, a promessa era de que o trabalho não envolveria combate. “Quando cheguei a Moscou e me apresentei para trabalhar, também me disseram isso. Mas, depois que fui levado ao centro de recrutamento e assinei, e então fui para o campo de treinamento, não estava mais no controle da situação. Naquele ponto, eu não podia mais tomar minhas próprias decisões.”
Confiança traída
Outro detido apresentado à imprensa foi Zhang Renbo, de 27 anos. Ele relatou que trabalhava como bombeiro em Xangai e viajou à Rússia de férias, em dezembro. “Tentei ganhar um pouco de dinheiro”, disse, segundo quem a oferta inicial era para um emprego na construção civil, mas acabou sendo deslocado para o front. “A mídia chinesa e a mídia estatal sempre enfatizaram nossa amizade com a Rússia, então sempre confiamos neles. Por causa dessa confiança, talvez tenhamos sido usados.”
Zhang contou que recebeu cerca de seis dias de treinamento em Rostov, antes de ser enviado a Donetsk, onde passou cerca de um mês em trincheiras até ser capturado no final de março. Já Wang disse ter sido deslocado em fevereiro para as cidades de Kazan e Rostov, sendo capturado em Donetsk em 4 de abril. Ambos declararam que não têm vínculos com as Forças Armadas ou serviços de segurança da China.
Wang encerrou seu depoimento com um apelo: “Se você está considerando se juntar a esta guerra contra a Ucrânia, para meus compatriotas chineses, não participem desta luta.” Eles disseram esperar que o governo chinês intervenha e negocie sua libertação.
Em pronunciamento recente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que mais de 150 cidadãos chineses estão lutando ao lado da Rússia. Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Lin Jian respondeu que as declarações são “irresponsáveis” e destacou que “o governo chinês sempre pede aos cidadãos que fiquem longe de áreas de conflito armado, evitem qualquer forma de envolvimento e, em particular, não participem de operações militares de nenhuma das partes”.
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